SIRÊNIOS
O peixe-boi marinho (Trichechus manatus) está listado nacional e internacionalmente como em perigo de extinção. Entretanto, acredita-se que o grau de ameaça desta espécie seja ainda maior do que o avaliado, pois o animal vem sofrendo diversas pressões naturais e antrópicas que podem agravar seu status de conservação.
Os peixes-bois são animais dóceis e majestosos, conhecidos também como manatis, Guaraguá/Guarabá (em tupi yuarauá) e Igarakuê (em Tupi-guarani). Esses grandes mamíferos aquáticos estão hoje sob séria ameaça de extinção, apresentando o menor número de indivíduos entre todas as ordens de mamíferos do mundo.
Os peixes-bois pertencem a ordem chamada de Sirenia, contendo duas espécies no Brasil: o peixe-boi marinho (Trichechus manatus), que ocorre desde o nordeste do Brasil até a América Central (com pontos de descontinuidade em toda a área) e o peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis), que ocorre na bacia amazônica. Contudo, a região do Amapá até a Guiana Francesa vem se caracterizando como área de hibridização destas duas espécies. Este fator tem acentuado as ameaças para a espécie e consequentemente aumentado o risco de extinção, principalmente do peixe-boi marinho.
Os peixes-bois marinhos são mamíferos aquáticos herbívoros e não ruminantes. Geralmente se alimentam de algas, capim agulha e folhas do mangue. Porém, podem ocasionalmente se alimentar de pequenos invertebrados de forma acidental ou esporádica.
Esta espécie geralmente possui o hábito costeiro, podendo também em determinados momentos utilizar áreas estuarinas e rios, principalmente em período reprodutivo ou para ingestão de água doce.
Estes animais possuem uma grande importância ecológica, pois suas fezes contribuem como adubo para pradarias de capim e bancos de algas marinha, favorecendo o crescimento destas plantas. Consequentemente, há o aumento da produtividade pesqueira, uma vez que são nestes locais que os peixes realizam parte de sua reprodução.
As causas para a diminuição populacional dos sirênios são variadas. Ambas as espécies brasileiras foram bastante caçadas no passado, sendo que hoje isto ainda persiste para a espécie amazônica. Entretanto, se a caça vem deixando de ser o grande algoz da espécie marinha, outras causas advindas das atividades humanas vêm levando o animal à ameaça de extinção. Entre elas o choque com embarcações, a destruição do habitat, desmatamento do manguezal, poluição e ingestão de lixo. Entre as causas naturais que levaram os sirênios à ameaça de extinção estão a lenta reprodução da espécie, seu comportamento dócil, que permite a aproximação de seres humanos, e a suscetibilidade a serem acometidos por doenças infecciosas.
O encalhe de filhotes órfãos (geralmente com poucas horas/dias de vida) é a principal causa de mortalidade da espécie no nordeste brasileiro, ocorrendo principalmente no oeste do RN e no extremo leste do Ceará. O PCCB-UERN tem importante papel nessa área, atuando no resgate e reabilitação desses animais desde os anos 2000. Cuidamos atualmente dos filhotes de peixes-bois no Centro de Reabilitação de Areia Branca.
PEIXE-BOI MARINHO
Thrichechus manatus
Peso médio: 500 kg
Tamanho médio: 350 cm
Média de filhotes por gestação: 1 filhote
Intervalo entre partos: 2,5 a 5 anos
Período de gestação: 11 a 13 meses
Idade de maturação: 3 ou 4 anos de idade
Expectativa de vida máxima: 60 anos
Distribuição geográfica: Sudeste dos EUA até o nordeste brasileiro
Categoria de ameaça: Criticamente em perigo
Dieta: Capim-agulha, macroalgas e ocasionais folhas de mangue
Características físicas: Coloração cinza na pele (mais escura em recém-nascidos); finos pelos sensoriais distribuídos espaçadamente pelo corpo; olhos diminutos; lábios superiores desenvolvidos e preênseis; quatro unhas nas nadadeiras peitorais.
REFERÊNCIAS
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